CRONOLOGIA
Nascido na Póvoa do Varzim (25 de Novembro de 1845), Eça de Queiroz desenvolveu a sua vida literária entre meados dos anos 1860 e 1900, quando, a 16 de Agosto, morreu em Paris. Nesse lapso temporal, Eça marcou a cena literária portuguesa com uma produção de alta qualidade, parte dela deixada inédita à data da sua morte...
1845 Nasce José Maria de Eça de Queiroz, na Póvoa de Varzim. Filho natural do magistrado José Maria de Almeida Teixeira de Queiroz e D. Carolina Augusta Pereira de Eça, é registado como filho de mãe incógnita. Baptizado em Vila do Conde, viverá até 1855 em Verdemilho, em casa dos avós paternos, apesar de o casamento dos seus pais se ter realizado quatro anos depois do seu nascimento.
1855 É matriculado no Colégio da Lapa, na cidade do Porto, dirigido pelo pai de Ramalho Ortigão. Aí fará a escolaridade obrigatória até ao seu ingresso na Universidade.
1861 Matricula-se no primeiro ano da Faculdade de Direito de Coimbra, onde conheceu Teófilo Braga e Antero de Quental, entre outros.
1866 Envia ao Teatro Teatro Nacional D. Maria II a tradução de uma peça de José Bouchardy, intitulada Filidor.- Forma-se em Direito e instala-se em Lisboa, em casa dos pais, no Rossio, 26, 4º andar, inscrevendo-se como advogado no Supremo Tribunal de Justiça.
Inicia a publicação de folhetins no jornal Gazeta de Portugal num total de dez artigos que serão reunidos no volume Prosas Bárbaras em 1909.
Conhece Jaime Batalha Reis na Redacção da Gazeta de Portugal.
Parte para Évora no final do ano, onde irá fundar e dirigir o jornal da oposição Distrito de Évora.
1867 Inicia a sua actividade como advogado.
Em Julho deixa a direcção do Distrito de Évora, regressa a Lisboa e retoma a sua colaboração na Gazeta de Portugal de Outubro a Dezembro.
No final do ano forma-se o «Cenáculo», contando-se Eça de Queiroz entre os primeiros membros; do «Cenáculo» farão parte Antero de Quental, Salomão Saragga, Jaime Batalha Reis, Augusto Fuschini, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, José Fontana, entre outros.
1869 São publicados no jornal Revolução de Setembro os primeiros versos de Carlos Fradique Mendes, "poeta satânico", criação conjunta de Eça, Antero e Batalha Reis,.
Viagem pela Palestina, Síria e Egipto, onde assiste à inauguração do Canal de Suez em companhia de Luís de Castro, conde de Resende.
1870 Regressado a Lisboa, publica no Diário de Notícias os relatos da viagem ao Médio-oriente com o título «De Port-Said a Suez».
Publicação no mesmo jornal de O Mistério da Estrada de Sintra, em colaboração com Ramalho Ortigão (de Julho a Setembro).
É nomeado Administrador do Concelho de Leiria.
Em Setembro presta provas para cônsul de 1ª classe no Ministério dos Negócios Estrangeiros, ficando classificado em primeiro lugar.
1871 É publicado o primeiro número d'As Farpas dirigido por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão.
Realizam-se as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, não se tendo cumprido a totalidade do programa previsto devido à proibição governamental ter impedido a sua continuação. Eça profere a quarta conferência intitulada «A Nova Literatura ou O Realismo como Expressão de Arte».
1872 É nomeado cônsul de 1ª classe nas Antilhas espanholas. No final do ano será empossado no seu cargo em Havana, aí permanecendo durante dois anos.
1873 Viagem pelo Canadá, Estados Unidos e América Central.
1874 Publicação do conto«Singularidades de Uma Rapariga Loura» no Brinde aos senhores assinantes do "Diário de Notícias" para 1873.
Transferência para o consulado de Newcastle-upon-Tyne.
1875 Publicação na Revista Ocidental, dirigida por Antero de Quental e Jaime Batalha Reis, da primeira versão de O Crime do Padre Amaro.
Conclusão da escrita de O Primo Basilio em Newcastle.
1877 Publicação no jornal portuense A Actualidade das crónicas «Cartas de Inglaterra», mantendo-se a colaboração até 1878.
Inícia a escrita de A Capital!, publicada vinte e cinco anos após a sua morte.
1878 Contactos com o editor Chardron apresentando Cenas da Vida Portuguesa, projecto para 12 volumes de novelas.- Publicação de O Primo Basílio (1.' e 2.' ed.) - Transferência para o consulado de Bristol.
Inicia a sua colaboração com um jornal do Rio de Janeiro, a Gazeta de Notícias, que só terminará em 1897.
1879 Escrita de O conde de Abranhos e de A Catástrofe, publicados em 1925
1880 Segunda edição em livro de O Crime do Padre Amaro.
Publicação da novela O Mandarim em folhentins do Diário de Portugal.
Publicação dos contos «Um Poeta Lírico» e «No Moinho», em O Atlântico.
1883 É eleito sócio correspondente da Academia Real das Ciências.
Reescreve O Mistério da Estrada de Sintra.
1884 Visita a Costa Nova na companhia da condessa de Resende e das suas filhas Emília e Benedita.
Publicação na Revue universelle internationale da tradução francesa de O Mandarim, com um prefácio de Eça, escrito em francês.
Segunda edição de O Mistério da Estrada de Sintra.
1885 Visita Zola em Paris.
A sua legitimação é tornada oficial pelos pais.
1886 Casamento com Emília de Castro Pamplona (Resende), no oratório particular da Quinta de Santo Ovídio no Porto.
Prefacia os livros Azulejos do conde de Arnoso e O Brasileiro Soaresde Luís de Magalhães.
1887 Concorre com A Relíquia ao Prémio D. Luís da Academia Real das Ciências, perdendo a favor de Henrique Lopes de Mendonça com a obra O Duque de Viseu.
Publicação de A Relíquia.
Data provável de escrita de Alves & C.ª.
1888 Nomeado cônsul em Paris.
Polémica com Pinheiro Chagas a propósito da atribuição do Prémio D. Luís.
Publicação de Os Maias.
Publicação no jornal portuense O Repórter, dirigido por Oliveira Martins, de algumas «Cartas de Fradique Mendes».
Forma-se em Lisboa o grupo d'Os Vencidos da Vida.
1889 Prefacia o livro de poemas Aguarelas de João Dinis.
Sai o primeiro número da Revista de Portugal, de que é director.
1990 Publicação do primeiro volume de Uma Campanha Alegre, reunindo a colaboração de Eça n'As Farpas.
1891 Traduz As Minas de Salomão, de Henry Rider Haggard.
1892 Publicação do conto «Civilização», na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro.
1893 Publica na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro a Crónica «Tema para Versos», que inclui o conto «A Aia».
1894 Inicia a escrita de A Ilustre Casa de Ramires.
Publicação de «As histórias: O Tesouro» e «As histórias: frei Genebro», na Gazeta de Notícias.
1895 Organiza, em colaboração com José Sarmento e Henrique Marques, o Almanaque Enciclopédico para 1896 .
Publicação de «O Defunto» na Gazeta de Notícias.
1896 Organiza, com os mesmos colaboradores, o Almanaque Enciclopédico para 1897.
Publicação de Antero de Quental - In Memoriam em que Eça colabora com o texto «Um génio que era um santo».
1897 Começa a publicação em Paris da Revista Moderna. Nos dois primeiros números publica os contos «A Perfeição» e «José Matias».
A Ilustre Casa de Ramires começa a ser publicado na mesma Revista, no número de Novembro, dedicado a Eça de Queiroz.
1898 Publicação na Revista Moderna do conto «O Suave Milagre».
1899 Prepara, em simultâneo, a publicação de três romances: A correspondência de Fradique Mendes, A Cidade e as Serras e A Ilustre Casa de Ramires.
1900 Morte após prolongada doença a 16 de Agosto, em Neully. Em Setembro, o corpo é trasladado para Portugal, realizando-se os funerais para o cemitério do Alto de S. João em Lisboa.
Publicação, em volume, já depois da sua morte, de A Correspondência de Fradique Mendes e A Ilustre Casa de Ramires.
CRONOLOGIA DE OBRAS
1845
1861
1867
1870
1871
1872
1872
Coimbra
Évora
Leiria
Lisboa
NASCIMENTO
Distrito de Évora (páginas de jornalismo)
«De Port-Said a Suez» (no Diário de Notícias)«A morte de Jesus» (n'A Revolução de Setembro)
O Mistério da Estrada de Sintra
O Mistério da Estrada de Sintra
Conferência do CasinoAs Farpas
As Farpas
As Farpas
1874
Cuba
«Singularidades de uma rapariga loira»(no Brinde aos Senhores Assinantes do «Diário de Notícias»)
18751876
1877
1877
Newcastle
O crime do padre Amaro (na Revista Ocidental)O crime do padre Amaro (1ª edição em livro)
«Crónicas de Londres» (n' A Actualidade)
Manuscrito de A Capital
«Crónicas de Londres» (n' A Actualidade)
Manuscrito de A Capital
1878
1879
1880
1884
1885
1886
1887
1879
1880
1884
1885
1886
1887
Bristol
O primo Basílio (1ª e 2ª Eds.)Manuscrito de A tragédia da Rua das Flores
Manuscrito de O conde de Abranhos«No Moinho» (n' O Atlântico)
«Um poeta lírico» (n' O Atlântico)
O Mandarim (1ª e 2ª Eds.)
O crime do padre Amaro (2ª Ed.)
Prefácio francês de O Mandarim
«A Inglaterra e a França» (n' A Ilustração)
«Uma carta sobre Victor Hugo» (n' A Ilustração)
O mistério da estrada de Sintra (2ª Ed.)
Manuscrito de A catástrofe
«Outro amável Milagre» (1ª versão de «O suave Milagre»
em Um feixe de penas)
CASAMENTO
Prefácio de Azulejos (do Conde de Arnoso)
e de O brasileiro Soares (de Luís de Magalhães)
Manuscrito de «O francesismo»
Manuscrito da carta a Camilo Castelo Branco
O primo Basílio (3ª Ed.)
A Relíquia
Manuscrito de Alves e C.ª
Manuscrito de O conde de Abranhos«No Moinho» (n' O Atlântico)
«Um poeta lírico» (n' O Atlântico)
O Mandarim (1ª e 2ª Eds.)
O crime do padre Amaro (2ª Ed.)
Prefácio francês de O Mandarim
«A Inglaterra e a França» (n' A Ilustração)
«Uma carta sobre Victor Hugo» (n' A Ilustração)
O mistério da estrada de Sintra (2ª Ed.)
Manuscrito de A catástrofe
«Outro amável Milagre» (1ª versão de «O suave Milagre»
em Um feixe de penas)
CASAMENTO
Prefácio de Azulejos (do Conde de Arnoso)
e de O brasileiro Soares (de Luís de Magalhães)
Manuscrito de «O francesismo»
Manuscrito da carta a Camilo Castelo Branco
O primo Basílio (3ª Ed.)
A Relíquia
Manuscrito de Alves e C.ª
1888
1889
1890
1891
1892
1893
1894
1895
1896
1897
1898
1900
1889
1890
1891
1892
1893
1894
1895
1896
1897
1898
1900
Paris
«Cartas de Fradique Mendes» (n' O Repórter e na Gazeta de Notícias)«A Europa» (n' O Repórter)
Os Maias
Director da Revista de Portugal - «Notas do Mês»
O Mandarim (3ª Ed.)
«Os Vencidos da Vida» (n' O Tempo)
O crime do padre Amaro (3ª Ed.)
Uma campanha alegre (2ª Ed. de As Farpas)
Manuscrito de «S. Cristóvão»
Uma campanha alegre (2º Vol.)
«Civilização» (na Gazeta de Notícias)
«Frei Genebro» (na Gazeta de Notícias)
«O Tesouro» (na Gazeta de Notícias)
«A Aia» (na Gazeta de Notícias)
«O defunto» (na Gazeta de Notícias)
«Um Génio que era um Santo» (no In Memoriam de Antero de Quental)
«A Perfeição» (na Revista Moderna)
«José Matias» (na Revista Moderna)
A ilustre casa de Ramires (na Revista Moderna)
«O suave Milagre» (na Revista Moderna)
MORTE
Os Maias
Director da Revista de Portugal - «Notas do Mês»
O Mandarim (3ª Ed.)
«Os Vencidos da Vida» (n' O Tempo)
O crime do padre Amaro (3ª Ed.)
Uma campanha alegre (2ª Ed. de As Farpas)
Manuscrito de «S. Cristóvão»
Uma campanha alegre (2º Vol.)
«Civilização» (na Gazeta de Notícias)
«Frei Genebro» (na Gazeta de Notícias)
«O Tesouro» (na Gazeta de Notícias)
«A Aia» (na Gazeta de Notícias)
«O defunto» (na Gazeta de Notícias)
«Um Génio que era um Santo» (no In Memoriam de Antero de Quental)
«A Perfeição» (na Revista Moderna)
«José Matias» (na Revista Moderna)
A ilustre casa de Ramires (na Revista Moderna)
«O suave Milagre» (na Revista Moderna)
MORTE
EÇA DE QUEIROZ E O BRASIL
Eça de Queiroz nunca foi ao Brasil, mas, de uma ou outra forma, a sua vida sempre esteve ligada a este país. Desde a sua Ama brasileira nos primeiros anos da sua vida, até às colaborações com a Gazeta de Notícias e a Revista Moderna, passando pelos amigos brasileiros que encontrou em Londres e Paris, tudo contribuiu para que, mesmo que não física, se criasse uma ligação indelével entre Eça, a sua obra e o Brasil.
A sua primeira ligação ao Brasil foi efectivamente a sua Ama, Ana Joaquina Leal de Barros, pernambucana. Mas,na realidade, os laços com o Brasil já se podem encontrar antes do seu nascimento. O seu avô, Dr. José Joaquim de Queiroz e Almeida,refugiara-se no Rio de Janeiro, na época das lutas liberais. Ali nasceu José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, pai do romancista, em 1820, dois anos antes da Independência Brasileira. Regressada a Portugal, a família Queirós trouxe um casal de criados pretos, Rosa e Mateus. Foram estes que,mais tarde,acarinharam o pequeno José Maria Eça de Queirós, lhe cantaram cantigas de embalar e contaram histórias misteriosas do Sertão.
Domício da Gama, em Londres, ou Eduardo Prado e Olavo Bilac, em Paris, são apenas três dos muitosconhecimentos e amizades brasileiras que granjeou ao longo da vida. A sua convivência com estes foi todavia mais estreita, tendo privado largas horas, em conjunto com a mulher e os filhos, junto destes seus “grandes e inesquecíveis” amigos. Mas as ligações de Eça com o Brasil passam em grande medida pela sua obra literária e a sua influência naquele país. Quando começou a sua carreira consular, Eça de Queirós concorreu para um cargo consular na Baía, tendo, porém, sido colocado em Havana. O seu primeiro contacto literário com o Brasil terá sido, em grande medida,resultante da sua participação nas Conferências do Casino e no protesto que assinou contra a decisão do governo de proibir aqueles eventos. Eça esperou a colocação diplomática durante um ano, tendo então fundado, com Ramalho Ortigão, o periódico As Farpas. Em Fevereiro de 1872, um texto daquele folheto, ridicularizando o imperador D. Pedro II por ocasião da sua visita a Portugal em 1871, foi reproduzido clandestinamente no Brasil, e aproveitado pela propaganda republicanaMas se estas páginas chocavam apenas os monárquicos, as páginas da crónica «O Brasileiro», também aparecida n’ As Farpas, chocaram quase todos, com as suas palavras jocosas, a caracterizar o brasileiro como tipo humano risível
Teriam de passar seis anos para que o sucesso literário de Eça no Brasil se começasse a afirmar. Com a edição d'O Primo Basílio, em 1878, vem uma forte crítica de Machado de Assis, que critica igualmente O Crime do Padre Amaro. Associado ao romantismo, Machado de Assis não aprecia as liberdades do realismo. Mas se estas críticas são fortes, a verdade é que dão azo a artigos em defesade Eça, tudo isto contribuindo para uma rápida divulgação do trabalho do escritor no Brasil. É a partir de 1880 que Eça de Queiroz inicia uma importante colaboração — 16 anos — com a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro. É neste periódico que são publicadas A Relíquia e Cartas de Fradique Mendes, bem como todas as crónicas depois reunidas em livro, com os títulos Cartas de Inglaterra, Ecos de Paris, Cartas Familiares e Bilhetes de Paris.
Com a sua transferência para Paris, Eça passa a sentir ainda mais o Brasil. A sua casa torna-se palco de visitas assíduas de intelectuais e diplomatas brasileiros como os já referidos Domício da Gama, Eduardo Prado e Olavo Bilac, mas também Paulo Prado, Magalhães de Azeredo e o barão de Rio Branco.
A sua morte foi extensamente falada e chorada no Brasil, tendo mesmo tido a honra de um monumento na cidade do Rio de Janeiro.
A sua primeira ligação ao Brasil foi efectivamente a sua Ama, Ana Joaquina Leal de Barros, pernambucana. Mas,na realidade, os laços com o Brasil já se podem encontrar antes do seu nascimento. O seu avô, Dr. José Joaquim de Queiroz e Almeida,refugiara-se no Rio de Janeiro, na época das lutas liberais. Ali nasceu José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, pai do romancista, em 1820, dois anos antes da Independência Brasileira. Regressada a Portugal, a família Queirós trouxe um casal de criados pretos, Rosa e Mateus. Foram estes que,mais tarde,acarinharam o pequeno José Maria Eça de Queirós, lhe cantaram cantigas de embalar e contaram histórias misteriosas do Sertão.
Domício da Gama, em Londres, ou Eduardo Prado e Olavo Bilac, em Paris, são apenas três dos muitosconhecimentos e amizades brasileiras que granjeou ao longo da vida. A sua convivência com estes foi todavia mais estreita, tendo privado largas horas, em conjunto com a mulher e os filhos, junto destes seus “grandes e inesquecíveis” amigos. Mas as ligações de Eça com o Brasil passam em grande medida pela sua obra literária e a sua influência naquele país. Quando começou a sua carreira consular, Eça de Queirós concorreu para um cargo consular na Baía, tendo, porém, sido colocado em Havana. O seu primeiro contacto literário com o Brasil terá sido, em grande medida,resultante da sua participação nas Conferências do Casino e no protesto que assinou contra a decisão do governo de proibir aqueles eventos. Eça esperou a colocação diplomática durante um ano, tendo então fundado, com Ramalho Ortigão, o periódico As Farpas. Em Fevereiro de 1872, um texto daquele folheto, ridicularizando o imperador D. Pedro II por ocasião da sua visita a Portugal em 1871, foi reproduzido clandestinamente no Brasil, e aproveitado pela propaganda republicanaMas se estas páginas chocavam apenas os monárquicos, as páginas da crónica «O Brasileiro», também aparecida n’ As Farpas, chocaram quase todos, com as suas palavras jocosas, a caracterizar o brasileiro como tipo humano risível
Teriam de passar seis anos para que o sucesso literário de Eça no Brasil se começasse a afirmar. Com a edição d'O Primo Basílio, em 1878, vem uma forte crítica de Machado de Assis, que critica igualmente O Crime do Padre Amaro. Associado ao romantismo, Machado de Assis não aprecia as liberdades do realismo. Mas se estas críticas são fortes, a verdade é que dão azo a artigos em defesade Eça, tudo isto contribuindo para uma rápida divulgação do trabalho do escritor no Brasil. É a partir de 1880 que Eça de Queiroz inicia uma importante colaboração — 16 anos — com a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro. É neste periódico que são publicadas A Relíquia e Cartas de Fradique Mendes, bem como todas as crónicas depois reunidas em livro, com os títulos Cartas de Inglaterra, Ecos de Paris, Cartas Familiares e Bilhetes de Paris.
Com a sua transferência para Paris, Eça passa a sentir ainda mais o Brasil. A sua casa torna-se palco de visitas assíduas de intelectuais e diplomatas brasileiros como os já referidos Domício da Gama, Eduardo Prado e Olavo Bilac, mas também Paulo Prado, Magalhães de Azeredo e o barão de Rio Branco.
A sua morte foi extensamente falada e chorada no Brasil, tendo mesmo tido a honra de um monumento na cidade do Rio de Janeiro.
EÇA DE QUEIROZ E O ORIENTE
A ligação de Eça de Queiroz ao Oriente deu-se quando este tinha 23 anos. Acompanhando o seu amigo e futuro cunhado, Luís de Castro, conde de Resende, Eça partiu para o Egipto em 23 de Outubro de 1869 para assistir à inauguração do Canal de Suez e regressou a Lisboa em 3 de Janeiro de 1870. Do total de setenta e dois dias, treze foram dispendidos na viagem de ida e outros dezasseis na viagem de regresso, o que deu aos viajantes quarenta e três dias para conhecerem o Egipto, a Palestina e a Alta Síria. A duração da viagem não foi muito longa mas as memórias deixaram marcas perenes.
O Canal de Suez na altura da sua inauguração
Se o Canal de Suez foi o pretexto para a jornada, as visitas às cidades do Cairo e Jerusalém foram os momentos marcantes da viagem, como o próprio Eça faz questão de ressaltar no texto publicado no Diário de Notícias logo após a sua chegada, intitulado «De Port-Said ao Suez».
O Cairo na época em que Eça o conheceu
O encontro com personagens como o escritor Théophile Gautier ou o Sr. de Lesseps, engenheiro do Canal, não deixaram no escritor uma impressão tão profunda como as marcas que lhe deixaram o Cairo e Jerusalém.
Tudo o que viu e sentiu Eça foi apontando nos seus cadernos de viagem, com o intuito de lhe servirem essas notas para publicação posterior, ou como material para futuras obras. Nos seus apontamentos chega mesmo a registar, com algum detalhe, locais por onde não passou, mas que ‘visitou’ graças às obras de alguns dos mais famosos visitantes do Oriente da época, como Maxime du Camp, Gérard de Nerval, Edmond About ou o já referido Théophile Gautier, o qual encontraria no Shepheard’s Hotel, no Cairo.
Mas para além dos textos, também as fotografias e gravuras da época sobre o Egipto Faraónico o influenciaram, explicando também em parte anotações sobre locais que não visitou, como Tebas e os seus templos, entre outros.
Nenhum dos cadernos com as suas notas de viagem chegou ao público enquanto o escritor foi vivo, mas tornaram-se parte das suas obras. A influência da visita de Eça ao Oriente destaca-se sobretudo em A Relíquia, A Correspondência de Fradique Mendes e as Lendas de Santos, mas também n’ Os Maias, O Mandarim, e em artigos publicados em jornais e postumamente reunidos nas Notas Contemporâneas, Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres.
Teodorico, d’A Relíquia, é a personagem cujo percurso mais se aproxima do do autor, mas também Fradique Mendes, Onofre, Teodoro, Carlos da Maia, Basílio, André Cavaleiro e João da Ega têm forte ligação ao Oriente. Um aspecto interessante relativo a todas estas personagens, à excepção de Fradique Mendes, é o facto de,para todas elas,a viagem representar um momento crucial nas suas vidas, um momento de mudança. As palavras de Teodorico, que refere que "esta jornada à terra do Egipto e à Palestina permanecerá sempre como a glória superior da minha carreira", podem muito bem ser a síntese que Eça faria da sua própria viagem.
Mas a sua adesão ao Orientalismo, então em voga, não passa apenas pelo Oriente próximo, mas também pelo Oriente longínquo, da China e do Japão. O caso d’O Mandarim é disso um bom exemplo, levando o leitor à China, ou mesmo os casos da crónica «Chineses e Japoneses», ou do artigo «A França e o Sião», focando mais uma vez o Oriente.
Outra ligação com o Oriente longínquo é a Cabaia, oferta do seu grande amigo, Bernardo Pinheiro de Melo, Conde de Arnoso, secretário do rei D. Carlos. Esta oferta resultou da viagem que o conde de Arnoso fez a Pequim, aquando da assinatura do primeiro tratado luso-chinês, em 1887. Esta peça inigualável, ricamente bordada com motivos tradicionais chineses, de forte significado mitológico e cosmológico, era uma cabaia de cerimónia de classes superiores. O seu restauro foi efectuado em 1992, pelo Instituto José de Figueiredo, com o patrocínio da Fundação Oriente e da empresa RIMA; trouxe-lhe o seu antigo esplendor, podendo agora ser apreciada na Fundação Eça de Queiroz.